São essas as palavras que resumem minha experiência como menina e moça. Um dia, com sorte, serei uma senhora mais madura e experiente e, ao reler essas palavras, talvez discorde de mim mesma, ou fique positivamente surpreendida. Deixo o registro e o compartilho, pois já recebi tanto de outras mulheres que dividiram suas mentes com o mundo, e com isso se colocaram vulneráveis às críticas. Sinto-me na responsabilidade de, ao menos, tentar retribuir como posso.
Feliz dia Internacional da Mulher.
Quando fui menina, tive sonhos diferentes daqueles das amigas. Eu dizia: "Não vou me casar nem ter filhos, irei morar em Nova Iorque e ser livre". Hoje não penso mais essas coisas, aprendi a admirar o esforço e o compromisso necessários para criar uma família e aprendi que o melhor lugar para se viver é perto de quem amamos. Criei expectativas, também outras foram criadas para mim. No entanto, elas estão sempre abertas para revisão crítica, pois não somos nós quem a servimos, mas elas que nos ajudam a seguir em frente, ainda que a rota seja revisada.
Não é verdade que podemos ser quem quisermos, nem que o esforço é sempre recompensado. O mundo não é justo. Como diz a canção: "nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas, aprendendo a jogar". A verdade é que a vida é uma só: ao menos esta vida conhecida, com este corpo, neste planeta. Boa ou má, curta ou longa, tudo o que temos é o tempo e ele passa ligeiro. Por mais vasto que seja o coração e vigorosa a alma: tudo passa. As possibilidades são muitas, mas só podemos viver poucas, por isso decidir é tão difícil. Escolher é dizer um sim e infinitos nãos. Arrepender-se é quase inevitável e machuca demais. Nessas horas, repito os versos de Fernando Pessoa:
"Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas nele foi que espelhou o céu."
Assim como o mar, o coração humano tem perigos e abismos, mas é nele que reside a capacidade de amar e refletir alegria, apesar, apesar, apesar...
Aprendi que respeito é algo que praticamos sem nenhuma garantia de retorno. O desafio é continuar praticante, ainda que sem reciprocidade. Trair a própria consciência é uma falha maior que qualquer outra, a mais difícil de perdoar e impossível de esquecer. Para mim, a humildade é fundamental para felicidade, somente sendo capaz de reconhecer maravilhas muito maiores que si próprio é possível transcender o ego e sentir paz, mesmo que por breves e raros momentos. São eles que dão sentido para existência.
Há momentos em que a melhor estratégia é dançar conforme a música, seguir o fluxo, aceitar o destino, desistir de certas crenças, abandonar algumas certezas, sem deixar o remorso prevalecer. Ser resignado requer muito mais coragem do que covardia: fazer o que não se gosta, não se quer, não se importa, simplesmente porque é o que se deve. Assumir responsabilidades, honrar compromissos, manter a integridade. Ninguém passa pela vida sem receber o seu quinhão.
Tenho medos e esperanças; sonhos e ressentimentos; amores e desafetos. Até ontem, mantinha o mantra pessoal: eu sou uma mulher forte e independente, do Século XXI. Hoje o alterei: eu sou uma mulher capaz de resignar tantas expectativas e respeitar outras possibilidades.