O Brasil sempre foi grande demais para ser dominado, seja por colonizadores, imperadores, ou presidentes. Um gigante, privilegiado pelas riquezas naturais e diversidade de biomas e de culturas, ambiente ideal para inovações, misturando interações de elementos de múltiplas origens em um mesmo caldeirão. Somos criativos, não há dúvidas. Em retrospecto, esforço que esta data especial nos impele a empreender, reconheço como um dos grandes méritos da nossa história a manutenção da integridade nacional, com relativa pacificidade.
A maior das revoluções liberais no Brasil, a Inconfidência Mineira, defendeu mais princípios progressistas e republicanos do que separatistas e segregacionistas. Diferente cenário viveram os Impérios do antigo regime, como os Habsburgos ou Turco-Otomanos. A Europa, apesar de integrada pela União Europeia (apesar do Brexit), é uma colcha de retalhos de Nações e grupos étnicos que ainda mantém vivos discursos separatistas acalorados, como os da Catalunha, na Espanha; ou ainda pretensões imperialistas, como os da Rússia na Ucrânia. Os Estados Unidos, para permanecerem unidos, lutaram uma Guerra Civil. Depois da Guerra de Secessão, mantiveram uma união política com concessões, por meio da instituição de um sistema federalista, onde ainda persistem rivalidades regionais intensas e discursos separatistas populares.
Nós, brasileiros, somos grandes, sim; resistentes, também; e merecemos mais. Temos desafios pela frente, sendo a desigualdade social o mais cruel deles. Existe Brasil suficiente para todos os brasileiros, para tanto é necessário repartir melhor os privilégios e as riquezas desse gigante. As respostas virão quando fizermos aquilo em que somos bons, e até invejados, por conseguir: mantermos a União em meio a tanta diversidade (de tribos, biomas, sociedades, culturas, culinárias, e muito mais)! Uma fatalidade esta data marcante ser celebrada em meio a campanha eleitoral tão polarizada. A hospitalidade e a alegria de viver são marcas fortes da nossa cultura: o carnaval; o São João; os apaixonantes e fieis torcedores campeonatos de futebol, de times pequenos, sem o glamour do futebol europeu; as quermeses de comidinhas caseiras; os churrascos no final de semana; as rodas de samba e de capoeira que surgem de forma espontânea; as amizades de vizinhança que duram a vida toda; o cafezinho com pão de queijo; as comunidades de imigrantes e seus festivais; o "passa lá em casa mais tarde"; e tantos outros costumes mais. Devemos preservá-la. Nossa riqueza vem das nossas diferenças; da capacidade de se adaptar às condições adversas e sobreviver; da necessidade de se reinventar para superar as dificuldades, sem perder o bom-humos (brasileiro também é o melhor produtor de memes na internet).
Querida Nação, parabéns pelo bicentenário! Voto para que seus filhos sejam capazes de semear mais fraternidade; de reconhecer os erros; de pedir perdão; de superar remorsos; e de trabalhar olhando para o futuro, sem revanchismo e também sem esquecer os erros passados. Ao invés de ter razão, busquemos o progresso compartilhado, pois não podemos avançar em partes, apenas em conjunto.