“Sorria, você está sendo filmado”... sempre. Supervisoras da humanidade, as lentes passaram a monitorar tudo ao redor, tal como Orwell previu. Estava equivocado apenas sobre o elemento volitivo. Ignorou a facilidade com que as pessoas desistiriam da privacidade. “Estou de acordo com os termos e condições”... pronto, agora o mundo está na palma de suas mãos, em alta resolução e com 4G.
O tempo de antes não era o de agora, instantâneo e descartável. Boomers descrevem a sensação de viver em outro planeta, ainda desconhecido. Logo eles, quem assistiram entusiasmados o homem pisar na lua. Agora, para ver as estrelas de perto, dobram a cabeça para baixo e acessam imagens em tempo real do espaço, pelo navegador.
No segundo milênio, o êxodo completou-se. A população mundial deixou de ser rural. As mazelas também: pragas, vermes e desgaste físico agora são ansiedade, desemprego e sedentarismo. Sinal do fim dos tempos. O drama precisava de uma tragédia para ficar completo. Não tardou. A transmissão física provou ser mais ligeira que a digital e alcançou escala mundial.
Respiradores artificiais, encontros remotos, algoritmos amigáveis: todos contra o inimigo invisível, letal aos seres humanos. Somos fracos porque vivemos; já os drones podem sair, sem ressalvas. Os criadores ficamos reféns das criaturas. “E agora? Quem poderá nos defender?” Almas confinadas precisam de um pouco de comédia neste romance histórico. “Cale-se! Cale-se! Você me deixa louco.”