Primeiramente, Miguel de Cervantes escreveu Dom Quixote como uma sátira aos romances de cavalaria muito populares no Século XVII. Eram histórias que narravam aventuras heroicas, mas improváveis e impossíveis. Criavam personagens humanos – diferentemente dos poderosos deuses mitológicos – mas dificilmente factíveis.
Dom Quixote é um retrato do que seria um cavaleiro “de facto”. Todas as aventuras narradas são perfeitamente factíveis e, portanto, cômicas. O protagonista é um fidalgo de poucas posses, mas ainda capaz de sustentar uma vida confortável sem trabalhar. Sua grande paixão eram os romances de cavalaria, por isso depreende-se que era um homem culto e bem-educado, pois sabia ler e possuía grande interesse pela literatura popular de seu tempo.
De tanto ler romances de cavalaria, perdeu o juízo. Nomeou-se Cavaleiro Andante, uma espécie de justiceiro, defensor dos oprimidos. Para dar início a suas aventuras, recrutou Sancho Pança, um camponês de seu vilarejo, como escudeiro sob promessa de altas recompensas; e escolheu Dulcinéa, donzela nada formosa, segundo a descrição de seus conterrâneos, como mulher amada, para quem dedica suas empreitadas.
Dom Quixote aparenta ser um homem razoável, mas que percebe a realidade conforme suas ilusões cavalheirescas. Onde há simples moinhos de vento, enxerga gigantes maldosos; na simples venda que funciona como acomodação de estrada, vê um castelo que abriga importante família nobre; liberta criminosos condenados que estão sendo conduzidos ao cárcere, pois imagina que são prisioneiros escravos (um dos que liberta rouba-lhe o cavalo, uma das partes mais engraçadas da história)… e assim por diante.
Na maior parte de suas aventuras, como é de se esperar, não obtém resultados positivos e acaba sendo espancado, roubado e ofendido diversas vezes. Entretanto, nenhuma das desgraças que sofre, tampouco os argumentos de ninguém, são capazes de convencê-lo de suas ilusões e fazê-lo recuperar o senso. Segue fielmente o código moral da cavalaria, que por muitas vezes parecem ser desculpas dissimuladas, para justificar covardias. Nesses momentos, a crítica social de Cervantes fica ainda mais evidente.
Em suma: Dom Quixote é um consumidor passivo do conteúdo de massa de seu tempo, capaz de defender vigorosamente os ideais que são apresentados como justos e corretos. Falta-lhe qualquer senso crítico e capacidade de análise independente.
Não dá para negar que, ainda hoje, existem muitos Dons Quixotes, cavalheiros andantes (digitais), defensores de “ideais-tendência”, vivendo em um mundo de romance.
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