Belchior
Essa letra passou a fazer muito sentido para mim depois de que declarei independência e fui morar sozinha. É a vida, quase ninguém foge do conflito geracional.
Alguns momentos históricos incitam mais revoltas dos jovens do que outros. Os movimentos sociais da década de 1960 são um exemplo disso, pois entraram para história devido a sua quantidade e magnitude.
Atualmente as manifestações estão mais concentradas no mundo virtual. Muitos debates acalorados mobilizam jovens, viralizam conteúdos diversos e chamam atenção para determinado tema. A vida pública é marcada pelo exercício da política, que por sua vez é o esforço de conciliação de interesses diferentes. Mas a vida privada também não está isenta de conflitos, especialmente entre pais e filhos.
Para as crianças, os pais são super-heróis. Eles transformam desejos em realidades, dor em carinho e perigo em proteção. Também brigam às vezes, mas, em regra, é por um motivo nobre. Por mais amor que pais e filhos compartilhem, é difícil fugir de alguns conflitos.
A duras penas aprendi que possuir opiniões diferentes, discordar de decisões e ignorar alguns conselhos do meu pai não altera o amor, respeito a admiração que guardamos um pelo outro. Uma dessas discórdias foi quando decidi vender o carro. Fiz as contas, busquei utilizar por um mês a bicicleta antes de tomar qualquer atitude e por fim decidi.
No começo escutava dele “Quantos meses você aposta que consegue ficar sem carro?”. Nem me dava ao trabalho de responder, pois quanto mais incomodada ele percebesse que eu estava, mais continuaria a implicar (boys will be boys, oh! yes, they will!). Hoje em dia reconhece: “A sua geração quer ‘usar’ e não ‘ter’, né?”.
Por outro lado, também já discordei de decisões tomadas por ele. Igualmente, já fiquei arrependida por seguir alguns de seus conselhos. Dói perceber que nossos pais não são os super-heróis que idealizamos quando criança. São feitos de carne, osso e erros como nós.
Hoje em dia considero nossa relação mais madura, como deve ser. Nunca vou deixar de ser a filhinha do papai. Tenho convicção de que ele, por mais decepcionado ou contrariado, vai sempre estender a mão para suas filhas.
A vida exige que a gente cresça e amadureça, não é possível fugir da dor sempre. Aproveito para concluir esse post com mais uma canção, porque a relação entre genitor e prole é complicada para qualquer geração.
Renato Russo