Apesar das tentativas civilizatórias de subjugar a natureza aos desejos e necessidades humanas, os ciclos naturais são irresistíveis. Os fenômenos naturais são fatores mais comuns de extinção das civilizações que qualquer outro. Afirmar isso não minimiza o impacto negativo no meio ambiente causado pela ação humana, que contribui para degenerar as condições de sobrevivência de espécies animais, inclusive a própria humanidade. A narrativa do progresso é atrativa, entretanto, se o sucesso das civilizações depende da dominação humana da natureza, as chances de vitória são quase nulas.
Aprendemos sobre a extinção dos dinossauros, as eras do gelo e conseguimos prever, ainda que sem precisão exata, quando o sol “morrerá”. Ainda assim, a tentativa de dominação do meio ambiente permanece. A história das civilizações é mais influenciada pelas limitações que a natureza impõe do que a princípio imagina-se.
As correntes de ventos de navegação, por exemplo, justificam as principais rotas comerciais da antiguidade e modernidade. O relativo isolamento de civilizações asiáticas também pode ser compreendido, em certa medida, pelas dificuldades de acesso e transporte da região. As correntes predominantes no Pacífico não favorecem a navegação rumo ao oeste. No Índico e Atlântico, ao contrário, elas são favoráveis. Por isso, rotas comerciais nas costas do Oriente Médio, África, Europa e, posteriormente, América, tiveram maior sucesso.
As civilizações são muito mais vulneráveis ao meio ambiente e seus ciclos do que costuma-se admitir. Ao longo do livro o autor traz informações interessantes sobre como certas sociedades encontraram formas de sobreviver, quais os maiores desafios enfrentados e o que levou ao desaparecimento delas, conforme o caso. Depois de percorrer milênios, todos os continentes geográficos, inúmeras culturas e crenças, o autor conclui reafirmando seu argumento inicial: somos insignificantes. Isso, entretanto, não significa que a história das civilizações não possui valor, apenas não é tão importante quanto acredita-se ser. É uma reflexão sobre humildade, em escala planetária.
Se apenas algo tão simples como o vento soprasse para o lado contrário, o mundo seria muito diferente do que conhecemos hoje. As civilizações tradicionais americanas, talvez, tivessem chegado à Europa ou África primeiro, quem saberá dizer?
Para concluir o post, uma citação do final do livro, como convite para incentivar a leitura da obra ou, ao menos, a reflexão sobre a impotência da humanidade frente à força da natureza:
There are few ‘lessons of history’, and in any case people never seem to learn from them. But the twentieth-century experience does seem to teach us one thing: If you misrepresent civilization as progressive, you are bound to disappoint people. If you cling to belief in ancient idealism, which sought to liberate virtue by manipulation society, your faith is doomed to unravel with experience. If you build morality into your model of civilization, you will make your model unworkable. If you imagine civilization as a kind of society capable of liberating human goodness, you will be self-deceived. The real ‘challenge to civilization’, so conceived, arises from within […] The civilized and the barbarous are usually thought of as mutually exclusive categories, but every society is a mixture of both. So is almost every individual. (Civilizations: Culture, Ambition, and the Transformation of Nature, p. 452).
Existem poucas ‘lições da história’ e, em grande parte, as pessoas não parecem aprendê-las. Mas a experiência do Século XXI de fato ensina algo à nós: Se você deturpar civilização como progressista, está perto de decepcionar pessoas. Se você inclina-se a acreditar em ideologias anciãs, que prometem liberar virtudes através da transformação da sociedade, sua fé está condenada a ser desmentida pela experiência. Se você constrói moralidade dentro do seu modelo de sociedade, ele se tornará impraticável. Se você imagina civilização como um tipo de sociedade capaz de libertar a bondade humana, você está auto enganado. O real ‘desafio da civilização’, assim concebido, surge de dentro […] Os civilizados e os bárbaros são usualmente concebidos como categorias mutualmente excludentes, mas todas sociedades são uma mistura de ambos. Assim como quase todos os indivíduos (tradução livre, não oficial).