A atual configuração da ordem internacional é resultado histórico da interação entre os Estados. Para entender nossa contemporaneidade é essencial o estudo dos acontecimentos mais marcantes. Não pretendo aqui descrever todos eles, nem mesmo classificá-los em uma hierarquia de importância, mas sim chamar a atenção para três momentos.
O primeiro grande importante foi a Paz de Vestefália, e surgimento do Estado Soberano, reconhecedor e respeitador da soberania alheia. Em segundo lugar, o movimento conhecido como “Febre Nacional”, que teve início na Europa a partir de 1820, e criou as bases necessárias para o reconhecimento do Estado Nacional. Finalmente, a realização das duas Guerras Mundiais durante o século XX representaram a transição do centro do poder mundial para fora da Europa, em direção à América.
Um elemento essencial no estudo das Relações Internacionais é o princípio da soberania, que teve reconhecimento formal na Paz de Vestefália. Durante a Idade Média, o Sacro Império Romano-Germânico constituía-se de vários Estados, que apesar de possuírem alguma autonomia, eram subordinados ao Imperador e à Igreja. Com o tempo, os poderes do Imperador e do Papa começaram a deteriorar-se, dando lugar às reivindicações de maior autonomia dos diversos Monarcas do Império. Entretanto, o poder de cada monarquia não era reconhecido pelas outras. Essa situação somente foi resolvida após a conclusão da Guerra dos Trinta anos (1618 – 1648), da qual resultou a formalização da soberania do Estado.
Mais adiante na história, após o final das Guerras Napoleônicas e a derrota de Napoleão, ondas de revoluções liberais e nacionalistas surgiram na Europa, ganhando força a partir de 1820. Elas faziam contraposição às tentativas de manutenção do Concerto Europeu (resultante do Congresso de Viena de 1814 – 1815 e defesa do Antigo Regime). Nessa época a burguesia já se tornara classe dominante economicamente, e tinha interesse em maior poderes políticos. Um importante exemplo desse movimento, que se espalhou por todo o continente, foi a Guerra de Independência Grega (1821 – 1829) em relação ao domínio do Império Otomano. Este contexto criou condições para o surgimento do Estado Nacional, que além de soberano, passa a possuir um povo com identidade própria. Por sua vez, a identidade nacional surge como elemento de coesão, composto por características comum entre os indivíduos de um mesmo país, como a cultura, etnia, língua...
Desde a Paz de Vestefália, o centro do poder mundial era concentrado na Europa. O resto do mundo não tinha relevância significativa nas Relações Internacionais até o início da emancipação das colônias, no século XVIII. Entretanto, esta realidade foi alterada, e os Estados Unidos passaram a ocupar o lugar de potência mundial hegemônica após o término da Guerra Fria. A referida transição foi alcançada após um longo período de desequilíbrio do balanço de poder europeu – consequência de interesses imperialistas – adicionados ao desenvolvimento de Estados não Europeus (EUA, Japão e URSS, por exemplo). Como resultado da fragmentação europeia, eclodiram duas Guerras Mundiais, deixando o continente enfraquecido política e economicamente, e abrindo espaço para disputa de outras potências pela hegemonia (Guerra Fria).
Atualmente, vivemos em um mundo cada vez mais multipolarizado. A configuração de poder atual não é estática, assim como passamos de um mundo centralizado na Europa, para um centralizado na América do Norte, continuamos em constante transformação. Os processos históricos explicam o dinamismo da estrutura e configuração da ordem internacional, entendê-los, portanto, é essencial.
Nota explicativa:
Esse texto foi escrito originalmente em Julho de 2017, completa quatro anos esse mês. À época, foi publicado em um site de estudantes de Relações Internacionais e teve grande repercussão. Possivelmente, ainda hoje é um dos meus textos mais lidos. Como o blog de outrora saiu do ar, compartilho novamente aqui, matando um pouco da saudade que tenho da época em que comecei explorar pelo mundo dos blogs de resenhas. Tenho especial carinho por ele.