A primeira lei de Newton, conhecida como princípio da inércia, é assim definida:
“Todo corpo persiste em seu estado de repouso, ou movimento retilíneo uniforme, a menos que seja compilado a modificar esse estado pela ação de forças impressas sobre ele”.
As leis da física se aplicam a corpos materiais. No entanto, podem ser úteis para entender o mundo imaterial das emoções, estados de ânimo, temperamentos...
A inércia é o familiar: tanto aqueles que gostam de tradições e rotinas como os que estão sempre em busca de novidades e transformações estão no seu estado "padrão". Da mesma forma que os corpos materiais, os corpos imateriais também podem ser passivamente submetidos a ação de forças impressas sobre eles. Porém, há uma diferença essencial, além das forças externas, os corpos imateriais têm a capacidade de deliberadamente agir sobre si mesmos. Portanto, a instabilidade no mundo imaterial é maior do que a do mundo material da física, dado que existem mais forças atuantes.
Deliberadamente agir sobre si mesmo para provocar mudanças de estado exige um tipo peculiar de energia: o otimismo ou a esperança, isto é, a expectativa de que o novo estado será melhor ou menos pior do que o atual - o benefício. Na maioria das vezes, também gera algum nível de desconforto - o custo. Porém, não existem leis que regem ou preveem o comportamento dos corpos imateriais. Cada um segue seus próprios critérios, conscientes ou não.
A física, sozinha, não esgota as questões sobre o universo não material.
Poder decidir por si mesmo é ao mesmo tempo uma liberdade e várias renúncias. Tal como na economia, no mundo imaterial também é aplicável o princípio da escassez. Não existem recursos suficientes para tudo e para todos. Infelizmente, não existe mercado para negociação de experiências, emoções, temperamentos... porque eles são produzidas de forma espontânea e são intransferíveis.
A economia tampouco resolve o dilema.
A linguagem é outro campo científico, com teorias e regras bem definidas, que pode contribuir em alguns aspectos para a reflexão sobre o comportamento dos corpos imateriais, em especial o comportamento deliberado, ou seja: decidir. Existem três modos verbais na Língua Portuguesa, eles descrevem as diferentes maneiras pelas quais um fato pode se realizar. A decisão (resultado do fato de decidir) é particularmente adequada ao modo subjuntivo. A ausência de decisão, ao modo imperativo. As decisões já tomadas, ao modo indicativo.
Porém a linguagem também está restrita ao tempo (pretérito, presente e futuro) e ele não permite retorno. Cada decisão é única e indissociável de seus componentes, não podemos as comparar entre os modos verbais, depois de conjugadas no tempo, pois elas não podem ser desfeitas e se influenciam de maneira encadeada. Não existe laboratório para tomada de decisão; tudo é feito sem teste, em produção.
Recorrendo aos conceitos populares nas escolas de negócio, pode-se entender o comportamento dos corpos imateriais como sistemas crítico executados sem homologação.
Poderia buscar outras fontes de conhecimento, mas suspeito que isso seria apenas um escape da verdade óbvia e evidente: é necessário decidir, assumir a responsabilidade e aceitar as consequências; porque a ausência de decisão também é uma decisão (tomei emprestada uma das frases célebres de Geralt de Rívia, da série The Witcher, escrita pelo polonês Andrzej Sapkowski e recentemente adaptada para televisão pela Netflix).
Nenhuma teoria, lei ou princípio, por mais sentido que faça, decide. O comportamento dos corpos imaterais não tem nada de científico, é humano.
São as coisas que eu sei que tornam as coisas que eu não sei assim tão intimidadoras.