Obra: Capitães da Areia.
Autor: Jorge Amado.
Ano de publicação: 1937.
Estado: Bahia.
Onde ler: a partir de R$ 10,00 + frete na Estante Virtual, ou e-book por R$ 29,00 na Amazon.
A Bahia foi o lugar que primeiro recebeu os colonizadores portugueses, por isso a região guarda rico acervo da construção da sociedade brasileira moderna. Jorge Amado é parte desses patrimônios nacionais. Tal como as populações nativas tiveram seu estilo de vida alterado com a chegada dos europeus, a inocência da infância dos protagonistas de Capitães da Areia é contaminada pelo abandono e pela luta por sobrevivência. Para quem vive às margens da “civilização”, não existem direitos.
Apesar da dura realidade enfrentada pelos capitães da areia, ainda existe espaço para coisas boas: amizades, amores e cumplicidade. Alguns dos “cidadãos de bem” se comportam mal. Já as crianças “fora da lei” possuem seu próprio código moral e são mais solidárias umas com as outras, apesar da miséria em que vivem, ou, talvez, justamente por isso.
Cada menino do grupo tem seus dilemas e seu destino. É difícil fazer julgamento sobre as escolhas feitas por eles. Talvez seja essa a grande lição do livro: ir além do olhar de preconceito, da arrogância de se achar superior. A inteligência e as habilidades desenvolvidas pelas crianças são valorizadas como ferramentas de sobrevivência, não infrações à ordem pública.
Obra: Senhora.
Autora: Raquel Naveira.
Ano de publicação: 1999.
Estado: Mato Grosso do Sul.
Onde ler: Livro impresso ou digital na Amazon, a partir de R$ 14,00 + frete.
O livro de poemas de Raquel Naveira está dividido em três partes. Cada uma delas narra em versos o cotidiano de três senhoras, em primeira pessoa. A primeira parte, Senhora do Castelo, nos leva de volta à Idade Medieval; a segunda, Senhora do Nilo, relata o Egito Antigo; a terceira, Senhora do Adro, traz a Corte Portuguesa do Século XVI.
Mesmo distantes no tempo e no espaço, é fácil se identificar com os versos dessas senhoras, pois contém parte da essência da feminilidade: o amor, o desejo de liberdade e a repressão. Abaixo, transcrevo um poema de cada parte do livro.
Moda I
Visto-me como uma fada:
Os cabelos escondidos
Sob um chapéu
Em forma de chifre,
Véu,
Cauda,
Toda azul
E apaixonada.
Barcos
No outro mundo,
Precisarei de barcos,
Muitos barcos modelares:
De junco,
Largas velas,
Remos fortes,
Que subam e desçam,
Levados pela brisa
Aos celestes lares.
No outro mundo,
Precisarei de barcos
Para navegar o céu
Com o rei-sol
E iluminar o além.
Sou hábil marinheiro,
Viver não será mais preciso,
Navegar será preciso.
Cabo Bojador
O Cabo Bojador
Projetava-se
Como um vasto de gargalo estreito
E corpo bojudo
Capaz de guardar tudo:
Sólidos e líquidos.
O Cabo Bojador
Alongava-se
Depois crescia
Como um ventre
Inchado de terra.
O Cabo Bojador
Era o limite
Daquilo que se podia suportar,
Admitir
Ou sonhar.
Quem resiste à dor,
Chega ao Cabo Bojador.
Obra: Do Mar do Caribe à Beira do Madeira.
Autora: Cledenice Blackman.
Ano de publicação: 2019.
Estado: Rondônia.
Onde ler: Livro impresso por R$ 42,00 + frete na Amazon.
O livro de Cleonice é resultado de sua pesquisa de doutorado sobre a imigração de povos antilhanos, especialmente de Barbados, para Rondônia, durante a construção da ferrovia Madeira-Mamoré no começo do século XX. Os capítulos são curtos e informativos. Em poucas páginas a autora traça o caminho feito pelos imigrantes, mas vai além.
A autora discute os motivos que fizeram antilhanos deixarem sua terra natal, como o aumento da população e a escassez de oportunidades de trabalho. Também traz relatos da dificuldade encontrada para se integrar na sociedade brasileira. As barreiras da cor da pele e do idioma foram dois fatores de distanciamento da comunidade de imigrantes dos demais moradores de Porto Velho. Ainda hoje é possível encontrar marcas desse preconceito e da segregação, seja no vocabulário local ou até na arquitetura dos bairros.
O Brasil recebeu muitos imigrantes, mas nem toda imigração foi igual. Cada uma teve suas peculiaridades e repercutiram de formas diferentes nas construções das comunidades locais. O trabalho de resgatar e registrar essa memória é importante, pois nos ajuda a entender melhor o presente e encontrar soluções mais adequadas para os desafios de nosso tempo.
Conclusão
Um romance, um livro de poesia e um trabalho acadêmico. Todos os três têm em comum o objetivo de deixar registradas histórias de pessoas “apagadas” na história. A escrita tem essa função. Ela nos conecta com personagens que viveram outras eras, em outros lugares. É o acervo da humanidade, o qual podemos consultar para encontrar sentido para dilemas internos, respostas para dúvidas sobre o mundo, consolo para inquietações.
O livro é uma companhia assíncrona, analógica e transcendental. Ler, portanto, assemelha-se a um super poder e nos permite voltar ou avançar no tempo, visitar lugares reais e imaginados, experimentar vidas diferentes da nossa. Não importa o gênero ou estilo de leitura.
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