Obra: Uma Sombra no Fundo do Rio
Autor: Eli Brasiliense
Ano de publicação: 1977
Estado: Tocantins
Onde ler: Estante Virtual, a partir de R$ 12,00 + frete
Tocantins é o Estado mais recente do Brasil, criado em 1988. Portanto, na data de publicação do romance ainda não existia formalmente. No entanto, é óbvio que o território, as pessoas e suas histórias já estavam lá. A trama e os personagens do livro falam da luta do povo da terra, da chegada de forasteiros e das intrigas entre eles.
Eli Brasiliense nasceu em Pium, quando o município ainda era parte do Estado de Goiás. Um de seus romances leva o nome da cidade natal. Ele foi escritor, professor e filólogo. Integrou a Academia Goiana de Letras e a Academia Tocantinense de Letras. Portanto, não é exagero dizer que dedicou sua vida à literatura.
"Uma Sombra no Fundo do Rio" é organizado em capítulos curtos, que definem uma cena. Elas não seguem uma cronologia linear, mas ao longo da leitura, os fatos vão se encaixando. Em uma vila remota, onde a presença do Estado é fraca, os homens fazem suas próprias leis. Não existe justiça, cada um busca a própria sobrevivência como pode.
Os forasteiros trazem desordem e violência. A presença dos indígenas e de outras comunidades locais é ameaçada. Alguns cangaceiros enfrentam os invasores. Cipriano é um deles. Por isso, vê sua família ser massacrada. As lendas e crenças locais se misturam aos relatos. São por elas que sobrevivem a memória dos que foram apagados da história.
A leitura requer muita atenção, as falas dos personagens trazem regionalismo e a narrativa segue um fluxo de consciência difuso. Personagens surgem e desaparecem de um capítulo para o outro, tornando a história difícil de ser desvendada. Esse mistério, no entanto, contribui para alimentar a curiosidade. As entrelinhas do não dito e as metáforas com as lendas são peças importantes para compor o enredo. Os nativos interioranos se sentem alheios aos grandes centros urbanos, da mesma forma, a jornada por esses recantos remotos do Brasil desafia os leitores urbanos.
Obra: Grande Sertão: Veredas
Autor: Guimarães Rosa
Ano de publicação: 1956
Estado: Minas Gerais
Onde ler: Amazon, edição comentada por R$ 98,00 + frete.
Essa talvez seja uma das obras mais comentadas da literatura brasileira. Guimarães Rosa foi uma figura ilustre, dotada de muitos talentos. Depois de se formar médico, Guimarães trabalhou em pequenas cidades do sertão mineiro e começou a escrever contos. Ingressou na carreira diplomática e serviu em postos internacionais importantes, na Europa e EUA, antes de ganhar notoriedade como escritor.
A experiência de sair do interior do sertão de Minas para o mundo, de tratar das pessoas simples como médico e de negociar entre autoridades como diplomata, permitiu a Guimarães ter uma visão de mundo peculiar. Nas suas obras, o protagonismo não é dos homens ilustres e poderosos. Ao contrário, os sertanejos ganham a cena. O escritor deu voz às histórias ignoradas, respeitando seu jeito de falar diferente, seus valores e crenças.
"Grande Sertão: Veredas" é um livro difícil de ler, não apenas pela extensão da obra, mas pela forma com é organizada. Riobaldo, jagunço narrador, conta sua história para um interlocutor não apresentado. Podemos nos colocar nesse lugar, sentar diante do livro e imaginar o protagonista conversando conosco, diretamente. Todo o livro é uma fala só, do começo ao fim, sem capítulos. O relato não segue a ordem cronológica. Riobaldo não é interrompido, fala livremente, como lhe vêm à memória.
É uma obra para ser lida e relida, sem que com isso se alcance a compreensão completa. Cada releitura revela uma camada a mais. Guimarães explora a essência da natureza humana a partir da vida de um jagunço. Mesmo diante de uma realidade tão diferente, é possível criar muita empatia por Riobaldo. Vários trechos nos convidam a refletir sobre nossa própria existência.
Se Deus existe, como acredita Riobaldo, o Diabo também deve existir. Essa dúvida o assombra. Toda criatura é filha de Deus. Por que Deus, tão bom, iria criar o Diabo? Existe, ou não existe? A luta do bem contra o mal não é apenas entre os homens, também acontece dentro de cada um.
Conclusão
O Brasil é muito grande. Tanto Eli Brasiliense como Guimarães Rosa dão voz ao povo do interior. Temos muito a aprender com os sertanejos, cangaceiros e jagunços. Eles enfrentam a seca, os bichos e o preconceito, resistem. São fortes, talvez mais do que nós. Com tanto sofrimento, não desistem de lutar para continuar vivos.
Para conseguir tirar a melhor experiência dessas leituras, é importante deixar de lado os preconceitos. Colocar-se na posição de ouvinte, não de inquisidor. Assim é possível criar uma conexão com os personagens. Eles tem muita sabedoria. Prestando bem atenção, são eles que vão nos ajudar a entender mais a nós mesmos.
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