Em breve as medidas de isolamento vão fazer aniversário. Confesso que o mais difícil para mim não foi a adaptação, pois já possuía hábitos introvertidos. O mais difícil para mim foi superar o desespero, controlar as emoções e racionalmente refletir sobre os desafios que essa crise representava para mim, para minha comunidade e para o mundo.
O resultado desse exercício, no entanto, não foi um diagnóstico objetivo, ou um relatório analítico, modelos de textos com os quais estou mais familiarizada. Foram versos, sobre nos ver sós. Um feliz trocadilho. Leio e escrevo bastante, mas não me considero uma literata. Não sei dizer se essas linhas que compartilho são belas; porém, são sinceras.
Salvação
Banal e breve existência
Às vezes penitência.
Existe recompensa?
A dúvida é perturbação
Maior que a devoção
Suborno de revelação.
A certeza do além
O Senhor do tempo tem,
Não divide com ninguém.
2020
Antes urgências
Agora suspensas
À espera contínua
A vida continua.
Fortuna
Muitos bens,
porém desdém.
Longas falas,
Breve atentas.
Maior riqueza,
Sincera gentileza.
Ideal receituário,
Coração solidário.
Máscaras
Se o único espelho
Fosse o olhar alheio
Toda vaidade seria tola
Toda beleza seria boa
Piedade
Basta de amar!
Quer apostar?
Quanto quiser.
Absoluta certeza,
Perdendo ainda,
Terei ganhado.
Precoce
A doce inocência
Quer independência.
Saberia saborear
Amarga liberdade?
Amuleto
Só superstição, sem explicação
Apesar disso, permanece isso.
Esse quê de ser deseja crer
Haver vida fácil de viver.
Relendo esses versos, acho-os bobos. Concluo que não faz bem deixar uma mente inquieta tanto tempo "ociosa". Porém, a espera está no final. Hoje é um dia particularmente especial: minha avó recebeu a primeira dose da vacina!