Há quem diga não compreender poesia, mas eu duvido. Desde sempre o objetivo dos versos é criar uma ponte imaginária entre as almas que habitam em cada corpo humano. Se prezam pela rima e pela métrica, não é por exibicionismo, apenas para facilitar a melodia e a memorização. Pois nossos ouvidos são atraídos pela harmonia. O canto dos pássaros e o sons das natureza são tradicionais trilhas sonoras para acalmar (ao vivo, é um dos maiores espetáculos do Planeta). Já as sirenes de ambulância, o melhor é deixá-las passar depressa, levando consigo aquela perturbação sonora.
Interpretar poemas não é condição para apreciá-los; assim como admirar obras de arte não pressupõe uma capacidade de reproduzi-las; porém, pode sim contribuir para enriquecer a experiência. Ter o espírito tocado por versos de outrem, desconhecido, às vezes já falecido, é uma sensação sem igual. Um êxtase transcendente.
Memorizamos versos, mesmo sem saber: seja de tanto ouvir tocar na rádio ou de memórias das aulas de literatura:
Duvido que alguém nunca tenha ouvido "Epitáfio" do Titãs.
Drummond, ao ouvir esse nome, os versos das pedras no caminho certamente vem à mente.
Todo professor de literatura que se preze apresentou, ao menos uma vez, "A Canção do Exílio" de Gonçalves Dias aos alunos.
(Luiz Vaz de Camões)
Este é provavelmente o soneto mais famoso da Língua Portuguesa, escrito por Luiz Vaz de Camões. Quem diria? Aposto que você não imaginava já ser capaz de citar nada menos que Camões!
A poesia, assim como as demais expressões artísticas, pode assumir vários gêneros: comédia, drama, romance, tragédia, erótica, infantil...
Por exemplo, as trovas, poemas de apenas quatro versos, normalmente trazem uma mensagem edificante ou engraçada; um elogio ou um desabafo. Podem ser facilmente memorizadas e, quando recitadas no momento certo, rendem lágrimas de emoção, risadas ou profundas reflexões:
(Bastos Tigre)
(Gilson de Castro)
(Lilinha Fernandes)
Também não falta senso de humor aos poetas, pois sabem fazer paródias como ninguém. Um dos sonetos mais famosos de Olavo Bilac, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, foi reescrito por Bastos Tigre, de uma forma bem divertida.
(Olavo Bilac)
(Bastos Tigre)
Poderia discorrer por várias linhas ainda, explorando a métrica de cada um das composições, analisando as intenções do eu lírico e elucidando a mensagem transmitida, buscando justificativas "técnicas" para as escolhas de cada palavra. Nada disso se faz necessário. A intenção e a intertextualidade estão evidentes: como a beleza deve ser.
Convido o leitor a visitar meu segundo blog, inaugurado durante a pandemia, onde tenho praticado escrito terapia em forma de pequenos textos, em verso e em prosa, de até cem palavras. Clique aqui e conheça.
Sugestão importante: leia o poema em voz alta, ou escute sua declamação. Um poema lido em silêncio é como um filme sem imagens, ou uma música sem som.