A definição de uma pessoa forte pode assumir critérios de referência e mensuração muito diversificados: força para levantar uma barra pesada, ou força para suportar uma dor intensa; força para vencer barreiras difíceis, ou força para persistir apesar das dificuldades; força para prestar assistência, ou força para seguir sozinho.
Os dois atletas acima são referências de performance na corrida.
Um deles é muito mais conhecido do que o outro;
Um deles exibe uma estrutura corporal mais robusta e imponente;
Um deles aposentou-se com 31 anos.
O outro não é tão popular nem tão celebrado;
O outro possui físico aparentemente "frágil", apenas aparentemente;
O outro conquistou a segunda medalha olímpica de ouro aos 36 anos, em Tóquio 2020 (2021) e permanece em atividade.
Quem é mais forte? A velocidade ou a distância é o mais difícil? A explosão ou a persistência vale mais? Adianto logo, não existe resposta certa. Certamente Bolt valoriza a velocidade e a explosão; Kipchoge a distância e a persistência. Ambos tem sua própria coleção de troféus particular, chagaram ao topo do caminho que escolheram e merecem todo mérito.
Para além dessas dicotomias, existe algo em comum entre atletas de alta performance. Como em muitas outras situações, podemos tirar melhor proveito quando voltamos a atenção para os pontos em comum, os valores compartilhados, as concordâncias, no lugar das diferenças e individualidades.
Simplificando de forma estruturada uma reflexão complexa e subjetiva, pode-se dizer que existem duas perspectivas possíveis para buscar a força.
A primeira prioriza a estrutura e o resultado final: segue uma sequência de etapas, estabelece metas e prazos. Depois de conquistado o objetivo vem a satisfação e a recompensa, parte-se para a próximo.
A segunda prioriza o processo e o compromisso: adota um estilo de vida, dedica-se a uma missão com a expectativa de que ela permaneça, persista. Quando o resultado alcançado recebe reconhecimento, aumenta-se a motivação para seguir firme no compromisso.
Quando as expectativas se concretizam, as duas podem ser consideradas bem sucedidas. Os problemas começam a partir da frustração da promessa. Uma mentalidade rígida assume apenas duas opções mutuamente exclusivas: sucesso e fracasso; ou se é o melhor, ou apenas mais um. Por sua vez, uma mentalidade de crescimento¹ coloca as coisas em perspectiva, considera mais variáveis para elaborar seu relatório de resultados, sem nunca deixar de lado a avaliação crítica, a honestidade, a responsabilidade e os riscos.
¹Usei o termo mentalidade de crescimento e não mentalidade flexível propositalmente, para evitar interpretações alternativas que o termo "flexível" pode sugerir. Em muitos casos, flexível pode implicar "tanto faz", "qualquer coisa atende". No meu ver, essas não são opções compatíveis com quem busca ser forte.