Ao longo do filme "Com amor, Van Gogh", um dos diálogos entre o Coronel e um amigo próximo do protagonista chamou minha atenção:
Coronel: "Ele surtou, acontece com as pessoas"
Amigo: "Quando são fracas"
Coronel: "Viva um pouco mais e verá. A vida derruba até os mais fortes".
Pesquisando o trecho na internet, descobri que ele é uma passagem do livro "Quem é você, Alasca?", o qual também inspirou um seriado de TV de mesmo título.
Refleti muito sobre essa citação. Ela me lembrou outra, agora do filme "Sociedade dos Poetas Mortos", dita pelo professor interpretado por Robin Williams: "Medicina, lei, negócios e engenharia são ocupações nobres para manter a vida. Mas poesia, beleza, romance e amor são razões para ficar vivo".
Durante muito tempo não dei o devido valor à arte. Racionalmente buscava maximizar minha produtividade. Não fazia sentido perder tempo com conteúdos que nada teriam a ensinar. Hoje eu sei que estava errada. Enormemente errada. As principais lições que aprendi durante a pandemia vieram da arte, elas me ajudaram a enfrentar esse momento desafiador.
Das leituras que fiz neste período, Bertrand Russell foi a mais impactante. O título de suas obras não fazem o meu estilo, pois remetem ao gênero autoajuda, algo sentimental demais para uma mente pretensiosamente "racional". Ainda assim, "A Conquista da Felicidade" está no topo da minha lista de 2020. Confira a resenha no post do link.
Nossa mente pode ser sufocante, às vezes. As artes são as janelas para deixar nosso interior mais arejado. Em tempos de isolamento, elas são ainda mais importantes. Nossa mente é o abrigo essencial, mas sem janelas, torna-se uma prisão.
Concordo com o Coronel, não temos escapatória: eventualmente a vida irá nos derrubar. Independentemente de quão forte e preparado você esteja.
A arte me ajudou a levantar e acredito que possa ajudar outros também. Então, o que posso recomendar é isso: abra as janelas dos olhos e leia mais livros, contemple mais a beleza ao seu redor; abra a janela dos ouvidos e escute mais músicas, mais amigos, mais histórias; abra as janelas das narinas e aprecie os aromas; abra as janelas dos lábios e saboreie os alimentos, os beijos e as palavras; abra as janelas da casa e observe a natureza e as estações; abra as janelas dos telefones e computadores, viaje pelo mundo.
Não temos todas as janelas ao nosso dispor, vivemos em um mundo desigual e injusto. É a vida. Podemos e devemos tentar mudar, evoluir, superar, mas só se tivermos a mente sã. E para isso, não tem outro jeito: alguma janela tem que ser aberta; alguma arte deverá ser experimentada.