Há muita maldade no mundo, e também há sempre esperança: vivemos entre justos e carrascos. Frequentemente estes vencem.
"Toda vez que um justo grita,
um carrasco vem calar.
Quem não presta fica vivo,
quem é bom, mandam matar".
Cecília Meireles
Hannah Arendt, refletindo sobre a condição humana, ensina que prometer e perdoar são os motores de mudança.
Em domingo de Páscoa, uma reflexão secular sobre recomeços:
"É devido a esta 'aleatoriedade' da ação entre atores plurais que os filósofos políticos desde Platão sempre tentaram substituir a ação por um modelo de política conforme à produção de uma obra de arte. Apenas as capacidades humanas de perdoar e de prometer podem lidar com esses problemas, e ainda assim apenas em parte".
"O remédio para a imprevisibilidade, para a caótica incerteza do futuro, está contido na faculdade de prometer e cumprir".
"Na medida em que a moralidade é mais que a soma total de mores, de costumes e padrões de comportamento consolidados pela tradição e validados à base de acordos – e tanto a tradição como os acordos mudam com o tempo –, a própria moralidade não tem outro apoio, pelo menos no plano político, senão a boa vontade de se contrapor aos enormes riscos da ação mediante a disposição para perdoar e ser perdoado, para fazer promessas e cumpri-las".
O perdão é assunto recorrente nas relações humanas. Um podcast que acompanho e recomendo, Potter Entrevista, possui uma série de conversas com personalidades brasileiras de diversos campos sobre o perdão: Martha Medeiros, David Coimbra, Bruna Surfistinha, Leandro Narloch, Irapuã Santana, Peninha, Jones Manoel, Pedro Sirotsky, Maikelly Muhl, Rossandro Klinjey, Andressa Urach e Thedy Corrêa.
Prometer, por sua vez, requer responsabilidade e coragem:
"Somos donos dos nossos atos
mas não donos dos nossos sentimentos.
Somos culpados pelo que fazemos
mas não pelo que sentimos.
Podemos prometer atos,
mas não podemos prometer sentimentos.
Atos são pássaros engaiolados.
Sentimentos são pássaros em voo".
Rubem Alves
Finalmente, para concluir este post meloso com risadas, uma desconstrução do Pequeno Príncipe:
"Tu te tornas eternamente trouxas pela expectativa que cultivas".
Uma promessa feita livremente é obrigação da pessoa que a faz. Se é ou não cumprida, apenas expõe o caráter de seu autor. Não diz nada a respeito de para quem ela é feita, a quem cabe apenas confiar e perdoar.